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Uma Carta à Clarice


Curitiba, 22 de Junho de 2015

Olá Clarice,


Como tem passado?


Perdoe-me pelo grau de tolice na pergunta inicial. É mais que óbvia a resposta, eu sei. Você sente minha falta. Espero também que me perdoe por não saber ao certo como iniciar a droga de uma carta para a pessoa que até pouco tempo atrás eu amava mais que minha própria vida, a julgar pelas fotos, vídeos no computador e mensagens no celular.


Acredite, sinto lampejos de felicidade ao perceber que um amor assim é capaz de existir. Adoraria lembrar-me de tudo. De cada detalhe, de cada mania, adoraria mesmo. Estamos distantes agora, e agradeço toda a sua compreensão por isso. Estou tentando. Venho tentando descobrir como me apaixonei pela garota com quem vivi os melhores três anos da minha vida.


Quero te contar uma coisa.


Tenho visitado todos os lugares que conhecemos juntos. Achei uma lista antiga na gaveta, escrita com a sua letra. Sei disso porque recebi o bilhete que você deixou pra mim na porteira do prédio, o pingo do "i" em formato de coração. E, nossa! Já visitamos tantos lugares, não é mesmo? Não chegamos sequer a conhecer a metade deles.


Todos os lugares são fantásticos. Escrevo essa carta numa mesa do Lucca Café. Gostaria de lembrar mais detalhes da última vez que estive aqui.


Sinto-me bem, mas estranhamente confuso. É como se faltasse algo. Esse é um dos motivos que me fizeram largar tudo. Preciso me redescobrir, redescobrir o cara que te amava. Mas não se preocupe. Quer tudo dê certo ou não, recomeçaremos.


O restante da lista ainda parece uma ideia maravilhosa. Percebo que todas as fotos que devo tirar, todos os lugares que quero conhecer, e todos os sabores que desejo degustar, clamam pela sua presença, e isso é incrível.


Mas é que essas coisas que não deviam acontecer... Inevitavelmente, acabaram acontecendo. Estão acontecendo. Não nos planos de ninguém, e era bastante remota a possibilidade de que eu perdesse a memória depois de um acidente, um mês antes de nos casarmos.


Posso te confessar uma coisa? Sim? Então respira.


Não lembro as suas manias, nem do seu cheiro, e mal lembro o som da sua voz. Eu sequer te vi sorrir além das fotos e vídeos antigos. E mesmo assim, já te vi chorar, já te fiz chorar, mas também já senti os seus cuidados, e você esteve ao meu lado no momento em que eu queria com tamanho egoísmo, te repelir.


Mas quer saber? Cada gole do café que tomo agora, cada casal que passa por mim jogando sorrisos ao vento, me faz sentir que mesmo não lembrando nada, sinto sua falta. Sim, eu me apaixonei por você, de novo. Você me roubou a solidão, menina. Melhor que isso, tomou o lugar dela.


E mesmo sabendo que algumas coisas precisam de tempo, posso pedir pra que aguarde o meu retorno. Mas por favor, não me olhe com esse olhar lacrimoso e emocionado de como quem vê a Torre Eiffel pela primeira vez.


Eu não farei nenhum grande gesto romântico. Calma, um passo de cada vez. Você sabe, talvez até mais que eu, o diagnóstico que os médicos nos deram. Ainda uso a aliança. E não a tirarei. Eu prometo. Tudo o que posso fazer agora, é respirar fundo, olhar o céu e dar nomes as estrelas, nós fazíamos isso?


Voltarei em breve, antes que me assole de vez o medo absurdo de que as coisas mudem mais ainda, que tudo um dia se torne absolutamente diferente dos Campos Elísios que o teu doce amor tem se mostrado ser para mim.


Espero poder encontrar um lar no teu abraço novamente, como nas lembranças que eu já não tenho. E eu sei que encontrarei.


Beijos minha querida, até logo.


PS.: Obrigado por registrar todos os momentos que vivemos. Nunca deixe de fazer isso.


Publicado por Robson Rodriguez

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