SABE AQUELES DIAS EM QUE VOCÊ ACORDA COM UM QUESTIONÁRIO NA CABEÇA? Sim, um questionário... Que na verdade mais parece com uma bomba relógio, prestes a explodir a qualquer momento, ao passo em que as lembranças surgem e te deduram a você mesmo. Chega a ser cômico, ridículo na verdade. Um questionário meio bobo e atordoado, com perguntas do tipo: “Que horas são?”, “O que aconteceu ontem à noite?”, “Quem me trouxe pra casa?”, “O que foi que eu bebi?”, “Onde estão as minhas roupas?”, “Que sinos são esses?”, “Quem é essa estranha deitada na minha cama?”, “E desde quando meu quarto virou um carrossel?”. 

 

Assustado, fixo meus olhos no teto buscando qualquer lembrança, qualquer coisa que me faça entender o que a lógica booleana não explica a respeito dos fatos. Era difícil entender em que ponto da festa, um sujeito como Eu, “certinho” e sempre na linha, teria perdido a sobriedade, sabe? Depois de algumas quedas, consegui me vestir, digamos que, parcialmente. - Afinal estava em casa e era natural desfilar descalço apenas vestindo uma cueca boxer – Minha cabeça estava prestes a explodir. Quem sabe uma xícara de café bem forte e sem açúcar, pudesse me ajudar na causa, quem sabe até esclarecer alguns pontos e preencher as lacunas que haviam ficado da noite anterior.

 

A propósito, o nome da estranha era Cecília. Engano seu se acha que lembrei, mas não me contive e tive que descobrir, logo após chegar à óbvia conclusão de que só havia duas maneiras de saber o nome e o motivo da minha estridente e ressonante ressaca. 

 

A primeira alternativa e mais fácil era simplesmente esperar ela acordar. Em seguida, Eu perguntaria seu nome, como ela veio parar ali, etc. e tal, completamente sem jeito é claro. E a segunda e clássica alternativa, que talvez justificasse meu lado meio paranoico e a minha total escassez de paciência, era cometer a ousadia de vasculhar a bolsa dela.

 

Eu sei, eu sei, isso é errado, mas não deixa de ser uma alternativa pra que eu chegasse ao meu objetivo mais rápido e de forma mais precisa. Pessoas mentem. Sabe-se lá Deus o que ela me diria se eu esperasse ela acordar. Então dei meus sinceros agradecimentos ao Santo Café Forte, e pus a mão na massa, melhor dizendo, na bolsa. 

 

Não sei como consegui extrair tantas informações de uma bolsa tão pequena, nem a razão de caber tantas coisas ali dentro, talvez fosse à versão “mini” da caixa de pandora, não por conter todos os males, pelo menos era o que eu achava. Confesso que senti um enorme alívio ao saber que não se tratava de uma “Profissional do Sexo”. Nada contra, Eu só teria dizimado e assassinado boa parte dos meus princípios trazendo uma pra casa.

 

Eis então as informações mais relevantes sobre ela. A estranha em minha cama era Cecília Torres Bertatti, 26 anos, taurina, solteira e filha única, de pais possivelmente separados, que adora cães e inclusive possui um, e por ultimo, mas não menos importante, sua profissão atual: Chefe de Cozinha. Por ora era tudo que eu precisava saber sobre ela, mas isso não era tudo...