top of page
  • (010)

  • (009)

  • (008)

  • (007)

  • (006)

1ª TEMPORADA

SINOPSE

SAÍ RUMO À COZINHA. Minha garganta esturricada clamava por algo liquido e sem álcool, segui em direção à geladeira em busca de água. A caminho de lá, meio distraído parei frente ao espelho que ficava no corredor que dava acesso a cozinha, e percebi em mim algo meio inusitado... Deus! Que marca é essa no meu pescoço?

 

Depressa, mapeei minuciosamente meu corpo em busca de outras possíveis “lembrancinhas”, mas tirando os arranhões quase simétricos nas minhas costas, não encontrei nenhuma outra.

 

Aos poucos eu ia tendo uma vaga ideia das coisas que haviam acontecido. É engraçado, mas naquele momento, de alguma forma eu me sentia incrível e estranhamente sexy frente aquele espelho, mesmo com todos aqueles arranhões, até ensaiei algumas poses buscando um másculo exibicionismo, mas me recompus depressa.

 

Já na cozinha, preparei uma compressa de água morna e apliquei levemente no local, isso fez com que aos poucos a marca fosse desaparecendo. Acabei por esquecer completamente o que ia fazer. Minha cabeça ainda doía, meu corpo pesava, mas as coisas já não giravam mais. De relance olhei o quarto, tudo estava em seu devido lugar, exceto pelo fato, é claro, de haver alguém na minha cama que eu não fazia a mínima ideia de quando, como, ou onde eu a havia conhecido.

 

Eu me perguntava o tempo todo sobre o quanto Ela achava minha cama confortavelmente maravilhosa, e ainda, sobre qual sonífero ela havia ingerido, já que ainda não havia acordado. Além disso, cheguei a me questionar e a duvidar também se ela estaria dormindo, hibernando ou havia entrado em coma por algumas horas.

 

Voltei a analisar o quarto, tudo parecia em “ordem”. Havia uma calça dobrada, já com o cinto nela e uma blusa, com os dois primeiros botões desabotoados, posta em um cabide.

 

- A vida é curta demais pra ter que abotoar todos os botões sempre. É mais prático vestir a blusa como se veste uma camiseta comum e por fim abotoar os dois botões que restam.

 

Era o que eu pensava. Isso fazia com que eu perdesse menos tempo na hora de me trocar, já que nem sempre eu acordava na hora certa.

 

Em baixo da cama, havia algumas garrafas de cerveja vazias, em contraste com meus discretos sapatos de couro preto nº 44 e apenas uma meia de cor azul marinho. Só Deus saberia onde encontrar a outra. Juntei todas as garrafas e algumas outras coisas bizarras que encontrei por lá, fiz algum barulho, mas a garota nem se mexia. De repente encontrei a outra meia, só havia um probleminha, estava no pé dela.

 

Sem duvidas, ter boa memória não era meu ponto forte, mas tudo naquele modesto e espaçoso apartamento parecia moldado na mais completa e criativa praticidade. E independente do estresse, da sobrecarga de trabalho e da pressão psicológica que depositava em mim mesmo, era admirável eu não possuir meus primeiros cabelos brancos e não apresentar nenhum sinal de calvície. Mas no fim da noite eu agradecia muito a Deus por isso, acredite.

 

Lembrei que estava com sede. Sai novamente em busca da geladeira. A minha era meio excêntrica. Sempre fui um grande adepto dos recadinhos de portas de geladeira. Imagine a minha como uma espécie de mural, ela era repleta de pequenas anotações e de alguma forma aqueles pedacinhos de papel, apesar de não serem “mini-babás”, ou controlarem totalmente a minha vida, ajudavam e faziam com que eu me mantivesse nos eixos.

 

Foi quando me deparei com uma das anotações que sempre faço e penduro por lá. Naquele exato instante eu chegava à conclusão de que a encrenca não poderia ficar pior. Joguei vagarosamente a minha testa contra a porta da geladeira e disse:

 

- Senhor... Faltam muitos pecados?

 

Aquela altura já não me importava mais quem era a garota, mas sim quantos minutos faltavam pra que eu entrasse em colapso. Marcado num papel com pincel vermelho, dizia:

 

“VISITA – SÔNIA – 11h”.

 

Olhei no calendário, em seguida o relógio, era sábado e eu estava ficando sem tempo. Como de costume ela sempre aparecia no ultimo sábado do mês... Mas era obvio, eu havia esquecido completamente desse detalhe...

A Ressaca - 003

Publicado em 08 de outubro de 2015 por Robson Rodriguez

bottom of page