Aquele vermelho.

 

À primeira vista já era um caos. Um confronto, uma tormenta eterna. O que se passa na cabeça dessa pessoa?! Mas veja bem, não era uma pessoa. Parecia mais com um anjo de asas rasgadas e sangue nas mãos. Era tensa até em sua mais singela paz. Os olhos de águia percorriam o meu corpo até encontrar o foco no meu olhar. Parecia me devorar alma à dentro.

 

Adentrava-me.

 

Era um vulcão ou uma mulher... Não sabia. Nunca saberia. Seu corpo pouco importava sua aparência não era nada diante sua aura. A moça tinha um tom de voz desafiador e manso ao mesmo tempo. Corria-me de curiosidade e ela nem se importava. Aquela mulher deixaria até Machado de Assis sem conseguir defini-la.

 

Aquele ser não parecia se importar com nenhuma influencia mundana... Não parecia participar desse circo ou de qualquer outro. Simplesmente estava ali sentava, tomando seu café e observando quem a observava.

 

Eu.

 

Eu era seu alvo. Sentia-me uma vítima ou um plebeu perante sua imponência. Sequer seu nome sabia, mas sua definição estava pra lá do impossível, dentro daquela caixinha que colocamos as coisas que ainda não foram nomeadas. Coisas atípicas. Aquele olhar me penetrava como aquele frio na barriga antes do primeiro beijo. Se fossem lâminas, eu já estaria tirinhas no chão.

 

Mais um passo.

 

Mais perto dela e já podia notar que percebera meu nervosismo. “Mas o que diabos estou fazendo? Ou será ela que está fazendo isso comigo?” Minhas pernas queriam congelar, mais seus olhos quebravam o gelo e aqueciam meu cérebro. De uma coisa eu tenho certeza, ela era dona do próprio destino e não ficava por ai de bobeira sem algo em mente. Ela comandava e domava.

 

E antes de abrir a boca e me render totalmente ao encantamento, respirei fundo. Mas ela não me esperou.

 

- Bom dia. – ouvi sua voz afiada e meiga me desmoronar e reconstruir em fração de segundo.