top of page
  • (010)

  • (009)

  • (008)

  • (007)

  • (006)

#PERFIS

               A janela aberta deixava entrar o frio atordoante daquele dia.

 

Frio da gente.
Frio de gente.

 

                O quarto estava vazio, assim como meu coração. Suas roupas jogadas ao chão, seu cheiro ainda em mim. Sua pulseira favorita largada no criado mudo. Seu rastro de destruição era lodo aos meus pés.

Desmoronava.

 

                Levantar era um risco inevitável, medo do pior, medo do que vinha depois da briga. Seu travesseiro favorito estava rasgado, assim como minha alma. Perdemo-nos e de nada adiantava elogiar ou fingir que tudo ficaria bem.

Não ficaria e a culpa foi minha.

 

                Existe um perfil de mulher que não se pode perder, mas que sempre perdemos. Como homens e muitas vezes mimados que somos só percebemos a perda depois. Neste dia, a perda me alcançou.

 

               Ganhei um vácuo.

 

                São aquelas, como essa que está dormindo no sofá depois da briga. Seus olhos fechados escondem a esmeralda que hoje aprendi a admirar. Aqueles olhos nunca mais sorririam para mim. Como toda joia, era fria. Seu coração havia parado por mim. E algum dia, aquelas lagrimas secariam e meu coração estaria partido em mil pedaços.    

       

                Aquela que se importou até quando não mereci hoje havia entendido que tal merecimento não era digno a mim. E o que dei em troca de tanto cuidado foi apenas casualidade. Era cômodo.

 

               Acostumado.

 

                São essas mulheres que deixamos escapar. São elas que decidem que homens seremos e nos mostram o quanto de poder feminino existe até em suas tristezas. A diferença entre mulheres e uma garota qualquer é que percebemos essa transição de quem somos.

 

               No que nos tornamos?

 

                Toda folha verde seca e cai... Ou é arrancada. Ela dormiu no sofá para ter certeza que não voltaria. Arranquei de mim fruta não madura. Era a mulher que hoje meus olhos enxergavam como ideal. Mas, quantas vezes isso ainda teria que se repetir? Um velho clichê do valor inestimável que é perder alguém... Ou se perder por alguém...

 

               Amarga alma essa minha.

 

                Seus olhos abriram e perfuraram minha alma. Amarrou o cabelo, calçou o sapato e não olhou para trás ao fechar a porta.

E abriu uma ferida dentro de mim.

 

               A esmeralda fora lapidada aos meus olhos para quem soubesse apreciá-la. E seus tons esverdeados estaria sempre na minha memória.

 

Perfis - 004

Publicado em 28 de outubro de 2015 por Mylena Rocha

bottom of page