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As Cicatrizes de Nicolle



DE INICIO, EU EVITAVA OLHÁ-LA DIRETAMENTE NOS OLHOS. E quando o fazia, sentia alguns calafrios. Ela era como uma geleira inconsumível vagando no meu litoral. Era branca, bela e fria. Aguda. Marcante. Arredia. Me atraía por suas feições sólidas, seus traços provocantes, bastante acentuados pelo vislumbre que me causavam seus lábios em tons de vermelho russo.


Eu nunca havia visto tanta marra em alguém com apenas 1,65m de altura. E mesmo que eu conseguisse enxergar que por traz de todo aquele tom áspero repousava um medo de querer em segredo, de dar mais que receber, de não entender, de tentar e de viver, quando ela me sorria eu reconhecia todo o seu esforço em esconder de mim, as cicatrizes que nela eu via.


Suas cicatrizes iam muito além de seu corpo. Sua alma estava ferida por lembranças de um passado recente, e que ainda doíam, mesmo assim eu estava disposto a beijá-las, e a curar cada uma.


Eu via insegurança e uma necessidade de controle em cada gesto dela. Mas entendia que sua insegurança era um efeito colateral de ter amado muito, mas ter recebido muito pouco em troca. E às vezes, quando o céu do seu pensamento nublava com nuvens de lembranças passadas, ela chegava a pensar que talvez tivesse sido projetada pra viver sozinha.


"Será que há amor para mim no mundo?" , ela me perguntava.


A resposta estava estampada noite e dia em meus olhos, em meu sorriso, e no abraço quente, que sem cobrar nada em troca, eu a ofertava. Apesar de tão desacreditado quanto ela, eu tentava mostrá-la que o amor vem para quem se permite estar vulnerável. A verdade, é que naqueles dias eu tentava ser para ela, o que ninguém foi pra mim.


E como num daqueles sonhos bons, que acontece assim de repente depois de um dia difícil, eu me vi depositando em seu peito o que a muito guardava e que já não cabia no meu. E então, o romance aconteceu.


Em pouco tempo, passei a amá-la com todas as letras, palavras e pronuncias.


Nicolle tinha um olhar impetuoso, cheio de malícia que conservava certa satisfação em testar meus limites.


Ela despertava meus sorrisos mais bobos, meus abraços mais longos, e dessa forma nossa breve história ia se escrevendo sozinha, parecia não precisar ser passada a limpo, pois havia capricho sempre, mesmo no rascunho. Ela era um daqueles chocolates com leve sabor apimentado no final.


Meu peito ainda infla, se alegra e acelera ao lembrá-la. Aquele colorido incomum que trouxemos a vida um do outro fez florescer dois corações outrora desertos. Eu amava a ideia de devolver a ela todos os sorrisos que lhe haviam sido roubados.


Ela foi para mim, como um daqueles sonhos, ao qual, depois de acordarmos, fechamos os olhos mais uma vez na esperança de prolongá-lo.


E mesmo com tanta birra e tanta saudade, - uma saudade que só era bonita na minha poesia, já que na vida real, ela ardia feito brasa. - nós nos entendíamos fácil. Ela é a prova viva de que quando duas almas se cruzam, e em algum ponto da vida, se abraçam, jamais permanecem intactas. E que por mais distantes que nossos caminhos se tornassem, o esquecimento era um lugar que nenhum de nós queria estar. Havíamos chegado a um consenso raro, de que: amores passageiros nem sempre vão embora.


Publicado por Robson Rodriguez



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